
Já estávamos nos acostumando com a atmosféra nada esperada do litoral uruguaio. Saímos sem expectativas, mas o que nunca passaria por nossas cabeças era que hippies, malucos de estrada e artesões acabariam sendo nossos principais companheiros de viagem. Numa noite escura pra caralho e repleta de mosquitos que sentiam em nosso sangue o cheiro de podre de todo um país, o camping em que estávamos parecia rota de tráfico de drogas e refúgio para os mochileiros mente-aberta que só queriam fazer do “unzinho” uma realidade para sua próxima semana de férias. A gente dividia um miojo, enquanto um grupo de mochileiros partilhava cigarros da planta medicinal legalizada na terra celeste. Eram pelo menos 8. Só um deles era mulher. Era estranho, porque entre cada tragada, eu só pensava quanto tempo faltava até que um dos 7 estrangeiros fosse currar a guria chapada e centro das atenções de um papo multicultural numa barraca National Geographic mal armada na área de camping.
A guria viajava sozinha, vinha da Inglaterra e quebrava o queixo dos guris-de-apartamento do velho continente e do país mais egocêntrico da América. Antes que sua ereção se complete, saiba que ela era feia pra caralho, e só atrás de uma lente fundo de garrafa que seus olhos pareciam um pouco alinhados. Naquele camping a aparência seria o de menos. Os outros 7 caras, incluindo um gordo com mais de 200kg e um sorriso bossal no rosto, vinham de algumas semanas de carona pelas estradas da Argentina. Mais do que a falta de banho, a falta de bronha subia à cabeça e corria à mente, corrompia os pensamentos e tudo acabava em uma câimbra nos dedos da mão, acostumados a aliviar toda a pressão pélvica. Eram 7 contra um. Uma paella gang-bang. Muita história pra contar. O buquê de rosas da rodada era mais um baseado tirado do bolso, já bolado e apertado em apenas uma tragada. Agora escorria dos dedos até os lábios visivelmente repletos de herpes da britânica sedenta por uma aventura no lado-b do Uruguai. Ela sabia o que estava fazendo. Sabia como ia ter que pagar. O gordo, em um sorriso que cortava as bochechas, tira um isqueiro do bolso e lança a chama que provoca uma explosão de fumaça e odores que podiam te levar a uma trip com o prato de miojo ainda cheio. Eles dividiam os risos. Ela parecia inocente. Acabamos o miojo. Lavamos a louça. No escuro, não nos viram: éramos os únicos remanecentes e cumplices da orgia cruel que estava por vir noite adentro. Os 8 entravam em fila indiana numa National Geographic para 4 pessoas. O gordo, sozinho, podia muito bem ocupar 50% do espaço. A guria foi a primeira a entrar, e seu vestido ficou do lado de fora. Depois de 7 já dentro, o gordo finaliza o serviço. Nossa barraca era a do lado. Estávamos com frio e precisávamos acordar cedo. Em silêncio, abrimos a barraca e deitamos. O ipod estava sem bateria, mas nessa noite não era problema. Com a canção de ninar criada pelos urros e gemidos dos viajantes, caímos no sono pensando na alegria daquele gordo risonho, desempenhando o trabalho há muito tempo praticado somente com as mão amareladas e com cheiro de cheetos.
#18 Uma inglesa em maus lençóis
Pedro Henrique Krug. Existe desde 1993, publicitário por formação. Está sempre com um livro na mão. Viajou diferentes universos com Kubrick, Lars Von Trier e Tarantino. Gosta de Beatles, mas também ouve Raimundos. Poderia ser filho de Alan Moore ou neto de Bukowski. Prefere os confeitos coloridos.

Pedro