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Phyllobates Terribilis é um dos sapos mais venenosos do mundo, e a aparência dele engana. Ele é amarelo, pequeno e pode te matar (assim como faz com alguns elefantes no meio de uma manada silvestre em uma selva da África do Sul), mas é só isso que sabemos. Pra mim, ele é ainda pior. Talvez o veneno do anfíbio amarelo não paralise apenas os movimentos, mas também tente congelar sua mente em uma realidade paralela, onde viver na estrada é a única opção. O foda é não saber se o sapo só deu as caras no deserto, ou foi ainda antes de termos iniciado nossa jornada pela América do Sul. Desde o início, nossa idade era uma boa desculpa e ótimo argumento para nos desprendermos do engessado sistema de trabalho e nos aventurarmos por aí, sem data marcada para voltar. No fundo, a gente já sabia que queríamos qualquer outra coisa que não fossem as 8 horas diárias dedicadas em um trabalho que não nos trouxesse realizações espirituais tendo como moeda de troca alguns peixes em forma de cédula, mas tudo isso parecia muito óbvio e repetitivo. Há quem pense que fugimos do trabalho, mas muito pelo contrário: levamos ele dentro de nossas mochilas. Por que não trabalhar viajandando, fazendo da experiência cultural e dos registros visuais uma porta de entrada para muitos sonhadores que pretendem um dia preencher seus 15 dias de folga com uma jornada pela América do Sul? Curtimos tanto o trabalho que desenvolvemos ao longo da trip, que nem mesmo as noites completamente desconfortáveis nos bancos da frente do carro, a economia no uso das roupas para evitar as lavanderias, os almoços simples feitos em estacionamentos de caminhões e a economia na hora de irmos ao mercado foram o suficiente para pensarmos em pedir um aumento, tirar férias ou nos demitirmos. E mais: cada nova cidade fazia nos sentirmos ganhando uma promoção ainda melhor. Na estrada, já nos imaginávamos fazendo um plano de carreira. Viver com tão pouco foi foda demais, e isso só nos levava à reflexão: caralho, se a gente tivesse o dobro do dinheiro que levamos pra viagem, ainda seria pouco, mas imagina a quantidade de coisas que poderíamos fazer e o tempo que conseguiríamos viver na estrada.
 
Os pequenos prazeres do dia a dia passaram a ser os banheiros de camping limpos, energia elétrica para mantermos nosso projeto em dia e o equipamento carregado e um clima o menos úmido o possível, para não acordarmos em uma barraca gelada, molhada e até mesmo congelada.
 
Quanto mais simples, melhor. Um prendedor a mais: mais um sorriso e mais uma roupa no nosso varal.  Nos envolvemos tanto com nosso trabalho, que ao olhar no espelho, víamos tatuado por todo o corpo um pedacinho de cada lugar que passávamos. Uma conta básica sempre era aplicada: a medida que a quilometragem do carro ia aumentando, nossas histórias e o número de fotos, vídeos e textos cresciam também. O resultado dessa equação era a diminuição constante do espaço livre em nosso computador e nos hds, e a felicidade de vermos nosso projeto tomar forma nas redes sociais e no nosso website. Fizemos horas-extras nas recepções de campings, lanchonetes de postos de gasolina e até mesmo dentro da barraca,  sempre vitimas da insônia que persistia em nos dizer que manter tudo atualizado era o caminho para uma grande realização. Cruzamos Uruguai, a Patagônia Argentina, acampamos na Tierra del Fuego, nos perdemos na neve de Torres del Paine, e nas geleiras de El calafate e El Chaltén, até recebermos o aviso prévio, à caminho do deserto mais seco do mundo.
 
Não foi e ainda não é fácil digerir esse ponto e vírgula que nos separa de uma próxima aventura. E enquanto isso, seguimos à caça do sapo amarelo, atrás de mais algumas doses do veneno que nos consome cada dia mais, e com o tratamento homeopático buscamos o elixir de uma vanlife que nos traga de volta à vida.

#20 Apertem os cintos, carro sem freio e muitas curvas pela frente

Pedro Henrique Krug. Existe desde 1993, publicitário por formação. Está sempre com um livro na mão. Viajou diferentes universos com Kubrick, Lars Von Trier e Tarantino. Gosta de Beatles, mas também ouve Raimundos. Poderia ser filho de Alan Moore ou neto de Bukowski. Prefere os confeitos coloridos.

 

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Pedro

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