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#2 We can camp it out

    Às vezes parece que pegar o carro e ir para um lugar extremamente isolado de problemas reais e diretamente conectado à natureza, nos torna mais utópicos e sensíveis ao intangível. Desverdade, ou irreal, em muitos dos casos. E assim partimos para não apenas um vale, nem utopicamente falando, nem um vale utópico, mas sim: o Vale da Utopia.

 

Parte 1 - Prelúdio

    Como toda desventura, o começo tem início pelo meio, o meio é meio fim e o fim parece que nunca terá começo. Quando surgiu a vontade de acamparmos pela primeira vez, não nos restou dúvidas: fazer isso o quanto antes. Adquirir experiência. Nos acostumar com limitações de alimentos e confortos e higienes. É, acampar em um final de semana seria o mínimo de um cálculo amostral pra avaliarmos que condições teríamos que enfrentar em uma viagem chamada: dia a dia, também traduzida como: vida. Uma escolha relativamente fácil, quando se pensa em liberdade. Inexistência de horários e rotinas.

Bom, para uma viagem com um fim utópico e extremamente indefinido, precisaríamos, sem dúvidas, de intermináveis planejamentos e cronogramas e metas e economias. Mas e pra esse um-final-de-semana-isolado-do-mapa, apenas um pontinho de um longo cálculo amostral? Falhamos, porém nem tanto.

    Quando definimos o Vale da Utopia como nosso primeiro local de acampamento, tentamos começar pelo início. Buscas por referências de trilhas e históricos e relatos de mochileiros que já tiveram alguma experiência por lá. Não foi difícil se encantar pela proposta do lugar, as paisagens e o nada que lá habitava. Compramos nossa barraca e não tínhamos outra ideia na cabeça: aquele seria nosso primeiro destino. A escolha não foi assim tão solitária, mas sim motivada por um casal de amigos. Mais uma barraca chegou. E consequentemente chegou a hora de ir, no dia seguinte, obviamente. Desconsideramos as condições climáticas, meteorológicas e naturais. Roupas e utensílios organizados às pressas, de última hora. Passar no mercado na noite anterior, sem muita ideia de quantidade x tempo x dinheiro x armazenamento. Lona comprada, nossas coisas no carro e o sol quase nascendo e querendo também entrar no porta-malas. We can camp it out, pensamos, e de Balneário Camboriú, para Itajaí e de lá rumo à Guarda do Embaú, nós quatro começamos uma estória que poderia parecer utópica. E, claro, esquecemos nossas rotas e anotações e referências todas em casa. Cabra cega, nosso lado criança às vezes fala mais alto.

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Parte 2 - A ida

    O dia da trip for camp também, obviamente, começou fora de ordem e com despertadores ignorados por mentes empolgadas, com poucas horas de sono. É, não partimos às 5h30, nem vimos o sol nascer no meio da estrada. Desesperados, acordamos com o barulho de algum celular vibrando dentro do armário (e o céu, já não tão preto assim, só trouxe mais um puco de preocupação), quase uma hora atrasados, partimos sem o café da manhã planejado, nem todo o tempo pra arrumar os últimos detalhes da viagem. Pra completar a contramão, iniciamos o caminho em direção contrária à Guarda do Embaú: fomos até Itajaí, buscar o casal de aventureiros que nos acompanhou nessa primeira jornada mais do que incerta. Como não vivemos só de reveses, a estrada estava a nosso favor, pelo menos até chegarmos em Florianópolis. Passando pela entrada da ilha, entramos em um pequeno congestionamento (nada que atrapalhasse nossa empolgação, aliás, muito pelo contrário, só fez com que tivéssemos vontade de transformar nossa vida em um congestionamento diário).

    Chegamos na Guarda, porém, ainda sem rumo. Sabíamos que a trilha era longa, sem acesso para carros. Teríamos que deixar o nosso mais confortável meio de locomoção em algum estacionamento ou pousada da praia, e aí que entra a primeira figura chave em nossa viagem: Dona Preta, simpatissíssima dona da Pousada da Preta, que disponibilizou um local seguro para o carro, e alguns pertences que ficaram por lá. Da pousada até o Vale da Utopia tínhamos um tempo estimado de uma hora de caminhada. Mesmo estando em quatro pessoas, optamos por fazer duas viagens: a primeira levando as barracas e alimentos, e a segunda trazendo travesseiros e cobertores. Não foi uma boa ideia. Iniciamos a trilha com ajuda de alguns locais da Guarda, que nos apontaram o caminho mais curto até o acampamento (e ainda não acreditamos que possa haver um mais longo), e ali começou uma prazerosa e desajeitada caminhada até um dos lugares mais utópicos que já vimos.

    Bom, o principal dificultador do trajeto eram nossas bagagens (mochilas e sacolas e barracas e milhares de afins), que mesmo não sendo assim tão pesados, eram, no mínimo, nada confortáveis de se carregar. Com isso, cada vez mais, o trajeto de uma hora passava a se multiplicar. O conflito era bem claro: desconforto x vistas incríveis x cansaço x vontade de chegar e aproveitar um pouco a tranquilidade do vale. E assim, de paradas em paradas, chegamos ao principal plot point da trilha de ida: de longe avistamos um morro um tanto alto, repleto de bois gigantescos, todos nada receptíveis a visitantes ensacolados. Bom, não foi isso que fez com que abandonássemos a ideia de montarmos acampamento no vale ainda utópico. Após alguns rodeios pela montanha bovina, encontramos uma brecha que nos dava acesso ao outro lado da praia. Lá, seguimos alguns minutos, aflitos, até deixarmos de escutar (ainda que de longe) o ruminar de nossos inimigos. Mais alguns cruzares de pernas e trilhas que terminavam em cercas e precipícios (além de, pelo menos cinco vezes, acharmos que já havíamos chegado ao vale), de fato avistamos a arquitetura genuinamente rústica do inconfundível Bar do Mema. Bom, após duas horas e quarenta minutos de sufoco e cansaço, sorriso e alegria voltaram a fazer parte de nossa jornada. Agora iniciava-se a busca pelo local perfeito para armarmos acampamento. A extensão do vale era mais do que formidável, e a presença de somente nós não nos enganava: não teríamos companhia durante nossa estada. Enquanto andávamos pelo gramado verde e utópico, surge uma figura caricata em uma clareira no meio dos morros: é Mema, o simpático e super receptível proprietário do bar e das terras do vale. Além de trocar uma ideia sobre o local, serve de guia e mentor para nosso primeiro acampamento. Após algumas sugestões de local para acampar, sentimos que finalmente é chegada a hora de almoçarmos e descansarmos um pouco. O local onde a jornada nômade teve fim era completamente paradisíaco: rodeado por rochas avermelhadas, com vista direta para o mar e um solo verde e plano, ideal para uma noite de sono tranquilo. Mas essa ainda não seria a hora de tanto comemorar, não para todos. Preparamos o almoço-lanche, descansamos um pouco na sombra da barraca, tiramos algumas fotos e a jornada de volta à Guarda do Embaú voltou a ser uma realidade para mim e Tuca, com a missão de trazermos travesseiros e cobertores que havíamos deixado em nosso carro (é, nunca esqueceremos que duas viagens não podem fazer parte dos planos de um acampamento tão inacessível). E assim, despreocupados devido ao sol ainda estridente, mas aflitos por deixarmos nossas namoradas sozinhas no acampamento, nos sentimos como Finn e Jake à procura de mais uma aventura.​​​​​​​​​​​​​​​​​​​

Pedro Henrique Krug. Existe desde 1993, publicitário por formação. Está sempre com um livro na mão. Viajou diferentes universos com Kubrick, Lars Von Trier e Tarantino. Gosta de Beatles, mas também ouve Raimundos. Poderia ser filho de Alan Moore ou neto de Bukowski. Prefere os confeitos coloridos.

 

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Pedro

 

Parte 3 - A volta

    Não é necessário dizer que a volta já começou um tanto perturbada, uma vez que não conseguíamos achar a própria trilha que pegamos durante o trajeto de ida. Bom, sabendo que não teríamos muito tempo até o entardecer (além de estarmos com um celular quase sempre sem sinal, com a bateria no fim e sem nenhum líquido para ingerir), começamos a discutir sobre a real necessidade de voltarmos ao ponto de partida. A questão era a seguinte: dormir desconfortável X arriscar se perder e acabar escurecendo, com duas garotas sozinhas em um acampamento completamente isolado. Bom, agora como Salsicha e Scooby, optamos por não parecer covardes, e sabendo que a trilha seria mais rápida (por estarmos sem nossas intermináveis bagagens) e a volta ainda mais curta, uma vez que levaríamos o carro até uma praia vizinha, onde uma trilha de apenas quinze minutos nos esperava. Bom, de qualquer forma, pelo menos vinte minutos foram necessários até acharmos nossa trilha recém finalizada, e aí inicia uma aventura que parecia ser muito tranquila.

    O trajeto foi vencido quase sem pausas, afinal, queríamos ser os mais rápidos possíveis, sem dar chances para possíveis contratempos. Em quarenta minutos chegamos, sem nenhum problema, até a Pousada da Preta. Pagamos por nossa breve estada no estacionamento, tomamos bastante água e fomos até a Praia da Pinheira. Lá, retiramos dinheiro, buscamos estacionamento e iniciamos a trilha de volta ao acampamento (a essa altura, já devia ser por volta de 15h30, e estávamos muito confiantes, uma vez que apenas quinze minutos nos separavam do triunfo). Também conseguimos um estacionamento tranquilo, desta vez na casa da simples Dona Branca, e de lá seguimos as primeiras coordenadas (e aparentemente únicas) até a trilha. Bom, entrando numa ruela apontada pelo guia-não-nomeado, tínhamos um destino bastante simples: seguir reto toda vida. E assim fizemos, até darmos de cara com uma cerca de arames farpados. É, não restava dúvidas de que algo estaria errado, então retornamos ao início da rua, parando para pedir informações aos moradores. A dica mais uma vez foi simples: é só seguir reto. Então resolvemos voltar ao caminho. Próximo da cerca, um leve desvio à esquerda era o mais parecido com “seguir reto”, o que pareceu fazer sentido. O caminho levava a uma espécie de trilha “pavimentada”, que em seu final contava com uma escada, dando acesso à praia. Desconfiamos bastante que ali seria nosso destino, mas perambulamos o suficiente para descobrir que da praia não teríamos nenhuma forma de acesso ao Vale Utópico, O Retorno. Muito sem graça, retornamos, novamente, até chegarmos na bendita e farpuda cerca, e passamos sobre ela, iniciando um trajeto reto-toda-vida.

    Desta vez, tudo parecia mais do que certo. Algumas trilhas se bi e trifurcavam em frente à nossos passos, o que nos dava a impressão de ser o caminho correto. Não comentado anteriormente, cabe registrar que, mais uma vez, contávamos com grandes quantidades de objetos nada anatômicos e tão pouco carregáveis. Sendo assim, apesar de leves,  dificultavam bastante o acesso em alguns pontos da trilha. Isso, somado ao cansaço das duas viagens à Guarda do Embaú, fizeram com que, quando avistamos um horizonte no ponto mais alto do morro em que nos encontrávamos, não tivéssemos dúvidas: era o local correto. Chegando perto, já com um sorriso no rosto e pensando que, ao final de uma jornada extremamente cansativa, teria tudo valido à pena e o que restaria seria uma ótima história para contarmos, percebemos que o horizonte contemplava um agoniante precipício. O desespero tornou a fazer parte de nossos pensamentos, e saber que a cada minuto o sol ficava mais fraco, nos fez lembrar das garotas sozinhas no acampamento, o que deixava tudo ainda pior. Bom, só poderia ser uma coisa: o nervosismo e a pressa estavam nos impedindo de fazer a trilha com calma e, consequentemente, deixávamos passar algumas passagens ao local correto. Sede e uma pequena faísca de fome passam a surgir. Nas nossas bagagens: apenas chá natural e algumas maçãs. Sentamos um pouco e tentamos nos acalmar, a fim de de uma vez por todas (e pela primeira vez) acharmos o caminho-que-em-princípio-era-fácil-demais. Então seguimos na procura de novas clareiras e passagens. Uma delas deveria nos levar à entrada do Vale, permitindo que, após muitas pernadas, víssemos alguma paisagem familiar. Rodeamos e perambulamos e enfrentamos cercas e pequenas rochas. Mas não importava o caminho que pegássemos, sempre era o mesmo lugar. Como experiência particular, nunca havia me sentido tão perdido, sem nenhuma orientação ou ponto de referência. Celulares, além de sem sinal, estavam com a bateria quase acabando. Após diversos rodeios, a paciência já estava acabando, e passar por arbustos espinhosos não era mais feito de maneira cuidadosa. Alguns arranhões passaram a nos acompanhar nessa caminhada e, com a chegada deles, alguns tripulantes acabaram por nos abandonar: entre as sacolas que carregávamos (boa parte de papelão), diversas quinquilharias mais-do-que-úteis fizeram peso suficiente para rasgá-las. Menos alguns talhares e calça e uma garrafa de bebida (é, esperávamos ter algo a que celebrar, durante a noite).

    O que não era nada anatômico, se tornou ainda mais desconfortável. Agora, com tudo debaixo dos braços, resolvemos ser sensatos e retornamos - mais uma vez - ao início da trilha (nesse ponto, já havíamos investido nossas energias em mais de uma hora e meia de caminhada). E quase chegando ao princípio, com emaranhados de edredons envolvidos nos braços e dois travesseiros gigantes amarrados na cintura, percebemos que, perto da cerca que nos deu acesso a essa confusa desventura, uma boiada composta por seis animais ofegantes e nada receptivos, nos encarava furiosamente. Nossa missão seria: atravessar uma cerca inicial, passar pela boiada e, finalmente, cruzar a cerca semeadora-da-discórdia. Tuca, mais esperto, jogou sua sacola por debaixo da cerca, e em uma manobra acrobática seguiu o mesmo caminho. Assim, pôde tentar me ajudar com os travesseiros, mas, quando finalmente consigo passar, um pedaço do edredom fica preso ao arame. Esse, sem dúvida alguma, foi o climax antagônico vivido por mim durante a jornada. Bom, mas ainda preso à cerca, acabo por me desesperar, quando olho para a boiada iniciando um trote lento em nossa direção, puxo, puxo novamente, perco a calma e arranco o edredom. Agora era possível sentir o trote dos bois ressoando no chão, e eles chegariam em poucos segundos. Me agarro ao edredom e junto com Tuca inicio uma corrida desesperada até a cerca. Dessa vez, passamos sem nenhuma calma, atiramos tudo morro a baixo e fizemos o mesmo com nossas carcaças. Quanto a boiada, com ar de deboche, seguiu reto, como quem não se importou por não acertar os intrusos.  

    Chegando ao princípio, não aguentei e acabei desabando no chão lamacento. Lá, fiquei deitado, depois abri a garrafa de mate leão natural (faço questão de frisar: natural. que também poderia ser descrito como: chá que mais odeio) e tomei e me afoguei num gigantesco gole. Enquanto isso, Tuca avançava alguns metros até a simples casa que até agora nos servia como um Mestre Gato do Vale-das-Maravilhas. Era tudo ou nada. Os moradores não conseguiam acreditar que não achávamos o simples caminho reto-toda-vida, e pareciam achar que não passava de brincadeira. Só queríamos chegar de uma vez por todas no acampamento, e agora o esgotamento beirava o limite. Oferecemos dinheiro para que um morador nos levasse até a dita entrada da trilha reto-toda-vida. Mas sua simplicidade não permitiu aceitar nossa oferenda, e fomos acompanhados sem nenhuma palavra até o local. Curiosidade que não pode deixar de ser mencionada: ele era o criador da boiada, e nos fez passar tranquilamente por dentro da cerca, lado a lado aos recém desafiados inimigos. Assim que passamos por eles, chegamos em frente à cerca que fazia parte de uma caminhada reta-toda-vida. Mas nosso guia  indicou que a direção da trilha era em um ângulo de mais ou menos 30° à direita (o que pra eles deveria contar como reto-toda-vida, e para nós: quase tirou nossas vidas). Agora sim, era tudo tão óbvio. Seguimos os ditos apenas-15-minutos-de-caminhada, esgotados no limite, mas só pensando que finalmente estaríamos seguros.

    Ainda com o frio na barriga e o receio de que algo ruim pudesse ter acontecido no acampamento, descemos uma ladeira gigante o mais rápido que nossas pernas permitiam. Atravessamos um pequeno riacho e enfim apenas algumas cercas e passagens minúsculas nos separavam de nossas barracas. Quando vimos, mesmo de longe, que nossas namoradas estavam bem, parecia que todo cansaço e desgaste haviam voltado ao corpo. Então, Tuca seguiu em frente até encontrar um abraço, e eu, nada singelo, desabei no chão pela segunda vez. Com o perdão da palavra, mas: PORRA, isso realmente foi um primeiro acampamento extremamente FODIDO. Depois de trocar a roupa, simular um banho e se agasalhar um pouco para o frio do final de tarde, organizamos todos nossos utensílios (que não passavam de um fogareiro portátil, uma panela, talheres e alguns pacotes de miojo) e preparamos nosso primeiro jantar de acampamento, sentados em uma rocha bem em frente às barracas, com vista ao mar mais horizonte de nossas vidas.

    Começamos o jantar próximo das 18h, mas antes de acabarmos de comer, mal conseguíamos enxergar nossos pratos e rostos. Perto das 19h, com as louças lavadas e todo estoque de comida friamente guardado em nossos abrigos, seguimos cada par para seu iglu, pois algumas mini tempestades de vento começavam. Conversamos estilo telefone sem fio durando no máximo uma hora, até que pegamos no sono. O céu de estrelas podia ser visto pelo teto da barraca, e parecia que finalmente teríamos o descanso tão merecido após tamanhas desventuras. Dormimos e apagamos. Até que, misteriosamente, logo após 4h da manhã, nossos amigos começam a nos chamar. No mesmo momento, ouvimos o som de trovões e percebemos que o teto da barraca agora era coberto por luzes que rasgavam de lado a lado. Medo. Estávamos a céu aberto, entre árvores e rochas, de frente para o mar (também conhecido como: grande berço de raios). Mais uma vez o desespero fez parte de nossas vidas, e a chuva passou a nos acompanhar nessa estória. Mesmo que de maneira sutil, nossa barraca ficava cada vez mais úmida. Porém, ainda com sono, acabamos dormindo mais uns 40 minutos. Não ocorreu o mesmo com nossos vizinhos, que além de passar todo o tempo em claro, também haviam ouvido um grupo de bois perambulando por nossos arredores horas atrás. Bom, ilhados, como nos definíamos, acabamos permanecendo praticamente imóveis na barraca durante mais uma hora e meia. A chuva já transpassava o interior, fazendo com que, estivéssemos ilhados sob o colchão. Percebendo que a chuva não acabaria tão cedo, e tão pouco os raios e trovões davam descanso, resolvemos enfrentar a chuva, desarmar o acampamento e correr com nossas intermináveis coisas até o bar do Mema, que era o único telhado-não-elétrico de todo o local.

    Lá, com mais calma, organizamos todo nosso material para a trilha, o que nos fez perceber que, novamente, precisaríamos fazer em duas viagens. Eu e Tuca iríamos primeiro, levando os itens mais pesados e desajeitados. E na volta, os quatro, agora mais folgados, teriam mais tranquilidade pelo caminho. E fomos. Cruzando o rio, percebemos que um grande grupo de grandes bois fechavam o início da trilha. Já exaustos, sentindo dores devido ao esforço do dia anterior, nos sentimos ilhados pela terceira vez em poucas horas, e retornamos ao telhado-protetor. Incrédulos, com uma chuva que nunca acabava, Tuca e Nati ressolvem que o mais correto seria ligar para os bombeiros, talvez um resgate por mar, ou alguém que conhecesse melhor as trilhas do local. Algumas tentativas e nada de sermos levados à sério. Até que, um pequeno grupo de pessoas que estava acampando em uns morros mais a cima (visivelmente muito mais experientes), cruzam o bar, e não exitamos em pedir se poderíamos acompanhá-los no trajeto de volta. Além da companhia e conhecimento da trilha, recebemos ajuda com alguns de nossos itens, mas acabamos por levar um tempo até acharmos a trilha correta (e só pensávamos: como faríamos isso sozinhos?). Toda a subida ingrime e barrosa da ida, se tornou uma ladeira lamacenta e escorregadia, o que deixou a trilha três vezes mais longa. Nesse momento, já calmos, seguimos em 45 minutos de trilha, com alguns escorregões e arranhões, até chegarmos ao mesmo local da partida: o estacionamento da casa da Dona Branca.

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Parte 4 - Pósfácio 

    Após trocar as roupas encharcadas, procuramos em nossas mochilas alguma muda que não estivesse do mesmo jeito. Com dificuldade, encontramos, e assim tivemos a difícil tarefa de realocar tudo no carro, sem fazer com que ele se tornasse uma piscina móvel. Com a temperatura do corpo aquecida, já preparados para a partida, olhamos a hora no celular: pouco mais de 10 horas. Poderíamos estar acordando. Mas afinal, pra que dormir se você pode enfrentar uma trilha de vida ou morte às 7 horas da manhã?

    Ah, e antes que me esqueça: sim! mesmo depois de toda essa experiência (e talvez principalmente por ela) continuamos todo o planejamento da viagem, e topamos ficar três meses na estrada, sabendo  que cada dia pode ser muito similar à essa história de sete-páginas-e-meia. Sim, we can camp it out!

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